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ARNALDO SETTI

( Brasil – Paraná )

Nasceu em Jacarezinho (PR), em 20 de março de 1920. Dipl. em Ciências Jurídicas e Sociais, fez doutorado.
Veio para Brasília em 1963. Professor, tradutor, advogado, presidente do Instituto Brasileiro do Café, presidente da Junta Comercial do Distrito Federal, membro da Comissão Executiva de Assistência à Cafeicultura, procurador da República, subprocurador-geral da República, coordenador jurídico da Procuradoria Geral da República, entre outros cargos. Colaborou em periódicos.
Pertenceu  à Academia de Letras de Brasília e à Associação Nacional de Escritores.
Bibl.: Três viajantes, 1971; Tempo de estrada, 1971; Um voo livre de pássaro, 1989; A pequena orquestra, 2003.
Faleceu em 7 de setembro de 2003.

MEYA PONTE. REVISTA QUADRIMESTRAL DE LITERATURA. No. 16  Editor: Arnaldo Sarty.   Pirenópolis,  Goiás: 2003.   162 p.  16 x 22,5 cm.                                                 Ex. bibl. Antonio Miranda

                        velha sala

sala velha bem velha
ampla bem ampla
paredes descascadas
mostrando pinturas clássicas desbotadas
azulejos portugueses em pedaços
assoalho de tábuas largas ruído
janelas de vidro francês quebradas
portas de madeira de lei empenadas
móveis de estilo estragados
lustres de cristal italiano partidos
vestígios de riqueza passada
talvez nobreza
pois ali que me refugiei
levei minhas coisas
muitos e muitos livros
máquina de escrever Remington
fabricada há mais de setenta anos
uma rede paraguaia onde amei Carmencita
cachorro Tabu que anda sem coleira
Gringo um canário da terra
que mora em gaiola sem porta
Paris um gato preguiçoso
que só mia em noites de lua cheia
umas telas que trouxe da Espanha
onde vivi três anos
fotografia grande e colorida
com Manolo Roble el mejor torero español
fotos muitas fotos
dos mais de trinte países por andei
barraca verde de lona impermeável
o barco Tucunaré Amarelo
e toda a restante tralha de pescaria
ainda cheirando a peixe
meu jipe meio amassado sem capota
que varou estradas sem fim
litros de pinga mineira
garrafas de bom vinho italiano
e outras e outras coisas mais
nesta velha sal bem velha
ampla bem ampla
pedaço de imensa mansão em ruínas
coloquei tudo o que era meu
inclusive jipe e barco
logo ficará com a minha fisionomia
esta sala velha bem velha
é meu mundo
abraçado às coisas que gosto
longe das cidades perdidas
distantes dos povos falsos
farei meus versos libertários
límpidos como a água cristalina
suaves como a brisa primaveril
autênticos como a  neve das estepes
profundos como o mar azul
puro como o primeiro amor

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